Cat People
1942 / EUA / P&B / 73 min / Direção: Jacques Tourneur / Roteiro: DeWitt Bodeen / Produção: Val Lewton / Elenco: Simone Simon, Tom Conway, Kent Smith, Jane Randolph
Sangue de Pantera, o clássico do diretor Jacques Tourneur, é um filme que gira em torno de sexualidade e repressão feminina transbordando da figura interpretada pela bela e exótica atriz Simone Simon, a tal mulher pantera do título em português.
Para contextualizar historicamente o filme, o mercado hollywoodiano de filmes de terror era amplamente dominado pela Universal e seus monstros Drácula, Frankenstein, A Múmia, O Lobisomem, etc. Com grandes orçamentos e sucessos de bilheteria, restava aos outros estúdios fazerem os filmes B. E daí que entra na jogada a RKO Radio Pictures, responsável outrora por grandes produções, entre elas Cidadão Kane, de Orson Wells, mas que estava em péssimas condições financeiras e precisava fazer dinheiro rápido com custos baixíssimos de produção, algo que gastasse no máximo 150 mil dólares, imagine. O produtor Val Lewton foi o escalado para cuidar do departamento de filmes de terror da RKO, e o primeiro deles, foi Sangue de Pantera.
E o filme virou um sucesso de público e crítica, começando o movimento de tirar o estúdio do buraco e financiar outras produções de terror. Na história, Irena Dubrovna é uma imigrante sérvia que trabalha com design de moda e se envolve com o engenheiro naval americano Oliver Reed. Conquistado pela beleza peculiar e pelo jeito introspectivo da garota (que confidencia a ele que não tem amigos americanos, ao convidá-lo para uma xícara de chá em seu apartamento) logo eles se apaixonam e consumam o matrimônio.
Porém, Irena acredita descender de uma linhagem mítica de mulheres panteras, que se transformam na criatura ao se relacionarem sexualmente ou sentirem-se ameaçadas. Segundo a lenda, as mulheres panteras são descendentes de bruxas executadas pelo Rei João da Sérvia (o qual Irena tem uma estátua em sua sala) durante a Idade Média, e suspeita-se que seu pai foi assassinado por sua mãe, logo após o ato sexual. Tenso!

O casamento dos dois vai bem mal das pernas, já que há muita frustração sexual entre o casal, e se complica ainda mais quando dois elementos entram na história: Alice, companheira de trabalho de Reed, que o vê cada vez mais infeliz na relação e o ama secretamente e o Dr. Louis Judd, psiquiatra que Reed contrata para tratar de Irena, mas que também acaba envolvido pela sedução intrigante da estrangeira.
Dado certo momento, a tensão crescente entre esse quarteto e o ciúme que Irena começa a sentir, vai saindo do seu controle e toda a sua repressão começa a despertar a “felina” dentro dela. Duas cenas são particularmente memoráveis: Nas duas, a rival Alice é perseguida e ameaçada por Irena, inclusive a clássica cena da piscina, porém tudo de uma forma subentendida, apenas através de vultos e rugidos do animal. E começa aí uma nova escola de filmes de terror, de não escancarar o monstro no plano principal e deixá-lo no imaginário do espectador, técnica essa emprestada dos filmes de suspense e noir.
Tourner quase abandonou o barco antes de terminar as filmagens, devido a uma pressão da RKO para que uma pantera de verdade aparecesse em duas cenas no lugar da atriz. Mas no final, mantém-se o apelo do inconsciente e a aparição do animal em cena, mesmo com o baixo orçamento do filme e a falta de recursos animatrônicos na época, acaba não atrapalhando, graças à forma como as cenas são conduzidas pelo diretor.
Quarenta anos depois, em 1982, Paul Schrader dirigiu uma nova versão misógina e sexualizada, estrelado por Nastassja Kinski e Malcom McDowell, que aqui no Brasil recebeu o nome de A Marca da Pantera, que assisti muito antes de ver o original, em algum Supercine ou Corujão da vida.

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