534 – A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos (1987)

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A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors

1987 / EUA / 96 min / Direção: Chuck Russell / Roteiro: Wes Craven, Bruce Wagner, Frank Darabont, Chuck Russell / Produção: Robert Shaye; Sara Risher (Coprodutor); Niki Marvin, Steve Thompson (Produtores Associados); Wes Craven, Stephen Diener (Produtores Executivos) / Elenco: Heather Langenkamp, Craig Wasson, Patricia Arquette, Robert Englund, Ken Sagoes, Rodney Eastman

 

A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos, depois do A Hora do Pesadelo original, é o melhor filme da franquia. E claro que isso se deve a volta triunfal de Wes Craven à série, como produtor executivo, escritor da história e da primeira versão do roteiro, na tentativa de apagar a porcaria deixada pelo infame A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy.

Na verdade, Craven recusou-se a estar envolvido na produção da sequência do seminal filme que colocou no mapa um dos principais vilões do cinema de terror, por conta de não acreditar na fórmula de transformar seu filme em uma cinesérie. Com a ótima bilheteria da continuação, Craven descobriu ter se enganado e resolveu voltar para, de uma vez por todas, finalizar sua criação.

Na verdade, o grande mérito de A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos é retomar ao ambiente do primeiro filme e expandir a mitologia do assassino que mata nos sonhos. E o elo entre as duas películas é a personagem Nancy Thompson (Heather Langenkamp – de volta ao papel) sobrevivente do massacre inicial na Rua Elm, localizada na outrora pacata cidade de Springwood. A primeira ideia de Craven era exatamente um exercício metalinguístico onde os atores do primeiro filme seriam perseguidos por Freddy Krueger na vida real, mas foi veementemente vetada pelo estúdio. E sim, foi utilizada no último filme da série, O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger, sete anos depois.

Escrito por Craven e Bruce Wagner, o roteiro passou pela revisão do próprio diretor, Chuck Russel, e vejam só, do futuro indicado ao Oscar®, Frank Darabont, diretor de Um Sonho de Liberdade, À Espera de um Milagre, O Nevoeiro e idealizador da série The Walking Dead. Na trama, Kristen (debute de Patricia Arquette no cinema) é uma adolescente problemática, revoltada, deprimida, com tendências suicidas, vinda de uma família disfuncional onde mora só com a mãe que leva estranhos para casa para farrear e beber uísque. Ou seja, é exatamente o perfil das jovens vítimas dos pesadelos de Freddy.

Welcome to prime time, bitch!
Welcome to prime time, bitch!

Após mais um pesadelo e ataque do maluco queimado de chapéu de feltro e pulôver vermelho e verde, é mandada para uma instituição psiquiátrica comandada pelo Dr. Neil Gordon (Craig Wasson) junto de outros jovens internados que também tem problemas de privação de sono. Todos eles filhos dos envolvidos na justiça feita com as próprias mãos pelos pais das crianças abusadas por Krueger ainda em vida. Como diz Nancy: “As últimas crianças da Rua Elm”.

Ah sim, Nancy reaparece adulta, como uma psicóloga na clínica, na esperança de ajudar o Dr. Gordon a tratar os pacientes, inclusive receitando uma droga experimental chamada Hyponocil, que funciona como um supressor de sono. Um a um os jovens começam a serem abatidos como moscas em uma sequência simplesmente impressionante de mortes: um garoto tem suas veias arrancadas e usadas como cordas de marionete com Freddy Krueger como titeteiro; a outra tem a cabeça enfiada dentro da televisão; outro é empalado por uma cadeira de rodas versão Trono de Ferro do Game of Thrones; e ainda Freddy transforma seus dedos em injeções e enfia nos buracos de picos de uma viciada, que se transformam em boquinhas implorando pelo tóxico.

Além dos efeitos especiais caprichados para essa terceira parte (lembre-se que estamos nos anos 80) dois elementos são importantíssimos para a construção do personagem e de sua própria mitologia, norteando passado e futuro de Freddy Krueger. O primeiro é o abuso do sarcasmo e do humor negro, com o personagem de Robert Englund sempre soltando uma frase de impacto ou piadinha logo antes ou depois de suas chacinas. As duas mais clássicas são o famosíssimo “bem-vindo ao horário nobre, cadela” antes de enfiar a cabeça da moça dentro do tubo de TV e o não menos clássico “vamos ficar doidões” antes de atacar a junkie. O segundo é a história do nascimento do sujeito, quando o Dr. Gordon descobre por meio de uma freira, a irmã Mary Hellen (Nan Martin), que sua mãe, Amanda Krueger, trabalhava em um hospital psiquiátrico onde só os piores elementos eram levados, e ficara presa no local durante um feriado, sendo estuprada dezena de vezes “por uma centena de tarados”, encontrada quase morta e grávida do bebê Freddie.

Puppet master!
Puppet master!

Com mortes impressionantes, Freddy mais maligno e engenhoso que nunca, pesadelos tétricos, a volta das criancinhas pulando corda e cantando aquela assustadora cantiga e cenários sombrios, A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos tinha TUDO para ser perfeito, mas… Sempre tem um “mas”, e são os tais Guerreiros dos Sonhos. Beleza, eu adorava quando era moleque e assistia no SBT, só que depois de velho ver os poderes que os jovens adquirem dentro dos sonhos é tosco demais e bem vergonha alheia. Kristen que além de poder trazer todos para o mundo dos sonhos, vira uma espécie de Daiane dos Santos; Kincaid (Ken Sagoes) adquire força sobre-humana; Joey (Rodney Eastman) que é mudo transforma-se no Banshee dos X-Men; Will (Ira Helden) se torna um mago à lá Presto de Caverna do Dragão; e Taryn (Jennifer Rubin), a viciada, numa punk de moicano gigantesco, roupa de couro e canivetes. Sério, por que, Sr. Craven?

Outro momento constrangedor, e aí vai ALERTA DE SPOILER, é quando o Dr. Gordon e o pai de Nancy (John Saxon também de volta) precisam encontrar os restos mortais de Freddy, que estão em um ferro-velho, e segundo a freira, enterrar em solo sagrado para que o monstro finalmente descanse em paz. Freddy consegue sair do mundo dos sonhos (só essa vez especificamente, e não me pergunte por que ele nunca o fez em outras oportunidades) e ressuscita seu esqueletinho que mata o pai de Nancy (em uma cena ao melhor estilo Jasão e os Argonautas) e dá um cacete em Gordon, jogando-o na vala aberta e o cobrindo com duas pás de terra (adoram fazer isso com Craig Wasson. Lembra de Dublê de Corpo?). Só para o psiquiatra voltar no último instante e enterrar os ossos de Krueger e acabar com o cabra da peste. Mas pera lá, porque ele não matou o sujeito ou pelo menos o enterrou de forma decente para não ser derrotado depois? E pera lá 2, ele não tinha que enterrar os ossos em solo sagrado? Não sabia que a terra de um ferro-velho é sagrada! Mas enfim.

Apesar dessas derrapadas, A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos é um ótimo filme de Freddy Krueger, e se junta ao original como os únicos que efetivamente prestam na cinesérie. Mas claro que a ideia de Craven em matar sua criação de uma vez por todas não deu certo, muito por conta dos mais de quarenta milhões que arrecadou na bilheteria americana (dez vezes mais que seu orçamento). No ano seguinte mesmo ele já voltaria a atazanar os sonhos dos adolescentes.

Let's get high!
Let’s get high!

Serviço de utilidade pública:

O DVD e Blu-Ray de A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos está atualmente fora de catálogo.

Download: torrrent + legenda aqui.

14 comentários Adicione o seu

  1. Paulão Geovanão disse:

    “O que foi Marcos? O gato comeu a sua língua?

  2. Diego disse:

    Depois do original, essa sequência com certeza é um dos melhores filmes da franquia.

  3. mnasom disse:

    A premissa original do filme seria com Freddy Krueger invadindo o mundo real e atacando o elenco e equipe técnica responsável pela série de filme A Hora do Pesadelo. A idéia foi rejeitada pelo estúdio, mas o próprio Wes Craven a usou posteriormente em O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger (1994);
    A cena em que Neil Gordon é jogado na sepultura é uma homenagem a Dublê de Corpo (1984), no qual uma situação parecida ocorre com o personagem interpretado por Craig Wasson;
    O filme que Jennifer assiste na TV pouco antes de ser morta é Criaturas (1986);
    Na versão original do filme a enfermeira tira seu uniforme e é vista de topless. Na versão exibida pela TV americana ela aparece vestindo um sutiã.
    A garra de Freddy Krueger roubada dos sets de filmagens reapareceu em outro filme: Uma Noite Alucinante 2 (1987), onde aparece enfeitando a parede.
    O filme estava em cartaz na HBO Plus no mes de setembro de 2014.

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