392 – Fascinação (1979)

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Fascination

1979 / França / 82 min / Direção: Jean Rollin / Roteiro: Jean Rollin / Produção: Joe de Palma / Elenco: Franca Mai, Brigitte Lahaie, Jean-Marie Lemaire, Fanny Magier, Muriel Montossé, Sophie Noël, Evelyn Thomas

 

Começarei meu texto parafraseando um comentário de Carlos Reichenbach: “Jean Rollin, adorado na França e na Bélgica é o José Mojica Marins gaulês”. Eu incluiria nessa citação também como o Jesús Franco franco (sacou o trocadilho? Hein?). Rei dos filmes de vampiras lésbicas feitos a toque de caixa com efeitos de maquiagem estúpidos e erotismo exacerbado, Fascinação é exemplo claro do que estou dizendo nesse primeiro parágrafo.

Pelo menos, levantemos as mãos aos céus e agradecemos que é um filme que apesar dos seus momentos surreais, tem uma narrativa, uma história com começo, meio e fim e não se parece em nada com os absurdos metafóricos e cheios de simbologia (leia-se sem pé nem cabeça) que o diretor francês imprimia em seus longas vampirescos no começo de carreira.

Para falar a verdade a trama é das mais bacanas. Claro que é um subtexto para servir como uma poética ode à sacanagem (o que Rollin faz que não é?). Mas funciona bem. Seu apreço pela estética, pelo estilo visual, pelo figurino (e a falta dele) é caprichado aqui em Fascinação, e junto com o improvável filme de zumbi As Uvas da Morte, figura como suas principais obras. E claro que se tratando de uma de suas principais obras, a sua musa, a atriz pornô Brigitte Lahaie (que segundo o próprio Reichenbach, “possuía o órgão genital mais fotogênico da história do cinema”) estará presente, desfilando sensualidade, nudez e erotismo.

Situado na França de 1905, Fascinação começa, digamos, fascinando o espectador com um visual hipnotizante que lembra uma antiga pintura ou fotografia (e que mais tarde farão todo o sentido) onde duas moçoilas dançam sobre a ponte de um castelo e na sequência, um bando de dondocas aristocráticas do começo do século passado estão na sujeira sangrenta de um abatedouro, onde foram tomar, vejam só, um cálice de sangue de boi (não o vinho de qualidade duvidosa, o sangue do bovino mesmo) que segundo a última moda em Paris, diziam ser bom para curar anemia.

Garotas que usam foices...
Garotas que usam foices…

Corta para o dândi malfeitor Marc (Jean-Marie Lemaire), que junto com outros escroques praticou um roubo de ouro e decide enganar seus comparsas fugindo com uma maleta cheia, para não ter que dividir com ninguém. Ele é perseguido até um castelo aparentemente abandonado, onde irá se esconder. Em seu interior, ele encontra justamente as duas moças que dançavam no começo do filme: a loira Eva (papel de Lemaire) e a morena Elisabeth (Franca Mais). Bissexuais, elas adoram se pegar enquanto estão em cárcere privado imposto por Marc. Mas Eva resolve fazer um joguinho de sedução com o rapaz para que o mesmo fique pelo castelo até meia-noite, quando a Condessa, dona do imóvel, e suas outras damas de companhia cheguem ao local.

Elisabeth tem uma crise de ciúmes e tenta alertar o rapaz para que ele vá embora, mas o mesmo ignora suas advertências, além de desprezá-la e rejeitar seu repentino amor, ficando por lá mesmo, querendo conhecer a Condessa e saber qual o teor da reunião sinistra que elas praticam anualmente (que por coincidência cairá bem naquela data). Nisso os demais assaltantes conseguem entrar no castelo, só para serem mortos pela sedenta por sangue e seminua Eva, que vai decapitando-os com uma gigante foice na mão e vestida apenas num manto, com um dos seios para fora. É uma imagem forte, emblemática e excitante ao mesmo tempo, só tenho isso a dizer (até porque se Reichenbach afirma que se seu órgão genital é fotogênico, o seu belo par de seios não fica atrás não).

Cai à noite, o grupo de mulheres de fino trato chega ao local e continuam fazendo joguinhos com o pobre Marc, que não consegue enxergar que está sendo manipulado, dentro de uma ratoeira humana, e muito menos desconfiar do maligno plano das moças. ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco. Como bem desconfiamos logo no começo do filme, beber sangue de boi não é uma boa ideia (nem o vinho nem o sangue do bovino mesmo) e a Condessa e suas cupinchas então se tornam vampiras, não no sentido sobrenatural, mas no sentido de beberem sangue humano (a qual são viciadas nessa altura do campeonato), anualmente em uma orgia de luxúria e morte. Ao final, fica um verdadeiro “bem-feito” para Marc e Eva, com Elizabeth saindo por cima da carne seca em uma interessante reviravolta.

Quem gosta do estilo de Rollin, não irá se decepcionar com Fascinação. Acho que até quem não goste. É um belo trabalho cinematográfico, tendo em vista as produções paupérrimas e canastras do diretor francês. É sexy, divertido, bonito, atmosférico, cercado de uma nuvem de mistério e até gore e assustador ao seu jeito, com um excelente final. Mas não perde seu ar bagaceira mesmo assim. Trocando em miúdos, é fascinante.

Clube das pepekas
Clube das ppks

Serviço de utilidade pública:

O DVD de Fascinação não foi lançado no Brasil.

Download: Torrent + legenda aqui.

3 comentários Adicione o seu

  1. Paulo Pedro disse:

    que post incrível.. é uma pena que o torrent esteja sem seeds.

  2. Paulo disse:

    Onde estão os links?

    1. Tá aí no final do post, Paulo.

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